Em outro artigo falamos sobre a liberdade fundamental. Agora nos deteremos sobre a liberdade mais conhecida, mais popular, a chamada liberdade de escolha. Temos consciência de que podemos escolher, e eleger isso ou aquilo. A essas duas capacidades de autodeterminação da vontade, a de escolha ou de exercício – que consiste na capacidade de escolha – e a de eleger ou de especificação que consiste em escolher isso e não aquilo, chama-se liberdade de arbítrio. É com ela que fazemos escolhas, por isso é mais conhecida como liberdade de escolha.
A corrente filosófica determinista, afirma que a liberdade de escolha não é real, que não somos livres para escolher, mas é somente uma aparência de liberdade de escolha.
Eles afirmam que nossas escolhas são pré-determinadas. Esse determinismo que nos impediria de escolhas livres viria por imposições de nosso código genético, de condicionamentos da infância, de psiquismos, de nosso subconsciente, classe social, etc. Todos esses fatores anulariam uma real liberdade de escolha, sendo as escolhas que fazemos apenas uma “aparência de liberdade”.
É evidente que esses diversos fatores citados acima condicionam, influem na liberdade de decisão, mas não a suprime. Em confronto direto e claríssimo com o determinismo está o fenômeno que nos assegura de modo inegável que a pessoa pode, diante de uma situação, afirmar: “Faço porque me dá vontade”. Os interesses múltiplos podem inclinar a vontade para determinada direção, mas não anulam a liberdade.
No outro extremo do determinismo está o excesso na valorização da escolha. Se no determinismo não haveria escolha, mas só uma aparência de escolha, no outro extremo está a corrente que prega uma espécie de liberdade plena de escolha, como se não influíssem a afetassem na liberdade de escolha o código genético e tudo o mais citado acima neste artigo. Nesse reducionismo o bem e o mal seriam categorias externas à liberdade. O que importa é somente escolher. Para essa corrente escolher mal seria também um exercício da liberdade e não uma privação da liberdade por motivos diversos que impediram a pessoa de percebera verdade e aderir livremente a ela a escolhendo
O maior expoente desse modo de pensar que reduz liberdade ao ato de escolher, sem se ater se essa escolha foi realmente livre ou movida por paixões, é Stuart Mill. Ele relativiza o conceito de liberdade.
Essa mentalidade se alastrou no Ocidente. Por essa mentalidade, ainda que alguém se equivoque, é preferível deixar-lhe no erro, sob pena de privar sua “liberdade de escolha”, quando na verdade seria iluminá-lo pela razão para que sua escolha seja realmente livre. Em Mill não se pode falar em projetos de liberdade melhores ou piores. Não podemos pretender dizer a ninguém o que é uma vida boa, como vive-la, basta dizer-lhe que é livre.
O problema desse modo de entender a liberdade é a ideia de que todos os valores são igualmente bons para aquele que livremente os elege, pois o que os faz serem bons não são os projetos em si, mas o fato de a escolha ter sido livre. O importante passa a ser o que é autêntico e não mais fazer o bem ou o mal.
Essa opinião tem verdades inegáveis: sem liberdade de escolha não há liberdade, pois não se pode impor o bem à custa de sacrificar a escolha. É válido tentar educar, guiar, orientar, mas impor algo a alguém capaz de decidir por si é rebaixá-la como pessoa.
De fato, não se pode abrir mão da autenticidade, que consiste em ser fiel a si mesmo. Mas daí a colocar a liberdade de escolha em primazia cai-se em alguns problemas: cai-se numa confusão entre espontaneidade e liberdade de escolha, tratando-as como se fossem sinônimos. Isto é, cai-se no agir somente movido por desejos e impulsos sensíveis, não pela vontade, pois não se considera os condicionamentos da escolha; os fins da ação não interessam, o que importa é a escolha livre, levando-se ao individualismo.
Na liberdade entendida como espontaneidade não cabem critérios, valores, acordos prévios, sendo impossível estabelecer limites ao tolerável. O fato é que as coisas e ações tem um valor objetivo em si – a cocaína é algo prejudicial em si, não é algo que dependa apenas da minha convicção, quando se afirma que minha escolha é boa só por ser minha, está se dizendo que eu não me engano ao escolher cocaína, mas isso não procede porque as coisas escolhidas possuem um valor em si.
Por último, afirmar que o espontâneo é o bom, é colocar-se nas mãos da biologia. Liberdade, por esse raciocínio da espontaneidade, seria por exemplo ter relações sexuais “sempre que se deseja” e no extremo, até mesmo contra a vontade do parceiro.
Entre os extremos do determinismo e da liberdade de escolha de Stuart Mill, pode-se afirmar que a escolha pode ser acertada ou errada, porque podemos escolher bem, e nos tornarmos melhores, ou nos equivocarmos a respeito do que nos convém. Só a espontaneidade não nos garante a melhor escolha. Pra escolhermos bem necessitamos de critérios a luz de um projeto de vida calcado em valores.
Logo, a liberdade de escolha consiste em escolher o bem. Escolha essa iluminada pela reta razão que move a vontade na direção do bem. Aquele que, diante de uma situação de escolha, opta pelo que é mal não age de modo livre, mas como escravo de algo que o priva do bem.
Por fim, as escolhas também moldam o sujeito que age, pois quando repetidas geram hábitos, dando lugar a um novo modo de ser, uma espécie de segunda natureza. Portanto toda decisão produz um enriquecimento ou empobrecimento pessoal, uma maior liberdade de escolha ou uma escravidão.