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Fala-se tanto em liberdade, mas o que é a liberdade?

Fala-se tanto em liberdade, mas o que é a liberdade?

A liberdade é talvez o dom mais valioso do homem, pois define toda a sua atuação. Mas também é a condição que possibilita a sua maior degradação. A liberdade é um direito e um ideal que não podemos nem queremos renunciar.
Quero trazer para você o conceito de liberdade mais próprio, mas essencial, mais profundo segundo a antropologia. Refiro-me à liberdade fundamental. Também chamada de liberdade constitutiva ou transcendental, ela indica que o ser humano é livre em seu nível mais profundo. Não é que a liberdade seja uma propriedade do homem, é muito mais que isso. Com a liberdade fundamental constatamos que a liberdade se constitui no próprio ser do homem. Não é suficiente afirmar que nós temos liberdade, o mais correto é afirmar que nós SOMOS livres. Trata-se de um possuir-se na origem. Ser dono de si mesmo. Nenhum cativeiro, prisão ou castigo é capaz de suprimir a liberdade humana. Temos um dentro, um interior, que é inviolável.

Portanto aqui não se trata de TER liberdade, mas de SER livre. A liberdade fundamental só se suprime se se suprimir (matar) o próprio homem.

Com isso, já concluímos que todas as formas de se perseguir a religião ou a liberdade de pensamento terminam naufragando, porque jamais alcançam o interior da consciência. Mesmo a tortura não muda o modo de pensar de alguém, apesar de visar destruir seu núcleo mais sagrado, sua liberdade interior, sua intimidade. Daí a gravidade da tortura.

A liberdade interior é o princípio da dignidade da pessoa humana, é a base dos direitos humanos e do ordenamento jurídico. Dela brota direitos como: liberdade de expressão, liberdade religiosa, liberdade de consciência.

O homem, por ser radicalmente livre, está em suas próprias mãos. A liberdade fundamental possibilita o forjar em si um projeto de vida. A liberdade faz com que o homem seja causa de si mesmo em suas operações. A pessoa faz o que quer para alcançar sua própria plenitude.

Obviamente o homem não é só liberdade fundamental. A liberdade fundamental convive com tudo o que a pessoa é: seu corpo, genética, cognição, afetos, educação recebida desde pequeno, tradições. Portanto, não sou livre para ter/escolher determinada composição corporal, genética. Mas sou livre para assumi-la em meu projeto biográfico.
Logo, a liberdade humana é uma liberdade situada. Isto é, o homem não é independente do que recebeu, nem livre a respeito de seu nascimento e de sua morte – são coisas que lhe acontecem inexoravelmente.

Finalizando sobre liberdade fundamental, ainda que a pessoa tenha o controle sobre a própria vida, através de um projeto vital, é certo que todos necessitamos de ajuda. Que as grandes coisas que nos ocorrem são presentes, dons (pais, amigos, cônjuge, etc). Há uma espécie de lei da aleatoriedade na vida sobre a qual não temos controle, mas podemos, exercendo nossa liberdade, fazer as escolhas mais corretas ou menos incorretas conforme o caso.

Imaginar que a liberdade é uma ausência total de limites que me constrangem é uma fantasia, uma abstração inexistente, que só encontra guarida em correntes filosóficas extremistas e nas cabeças de adolescentes ou adultos imaturos. O homem tem corpo, história, toda uma herança genética, cultural a que chamamos “síntese passiva” que situam sua liberdade.

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